(Baiana/2024) Primeiro, o juízo dos homens é mais temeroso que o juízo de Deus porque Deus julga com o entendimento, os homens julgam com a vontade. Quando entre o entendimento de Deus e a vontade dos homens não houvera aquela infinita distância, bastava só a diferença que há entre vontade e entendimento para ser grande a desigualdade desses juízos. Quem julga com o entendimento pode julgar bem e pode julgar mal: quem julga com a vontade nunca pode julgar bem. A razão é muito clara. Porque quem julga com o entendimento, se entende mal, julga mal, se entende bem, julga bem. Porém quem julga com a vontade, ou queira mal ou queira bem, sempre julga mal: se quer mal, julga como apaixonado; se quer bem, julga como cego. Ou cegueira, ou paixão: vede como julgará a vontade com tais adjuntos. No juízo divino, não é assim: julga só o
entendimento […].
É mais temeroso o juízo dos homens que o juízo de Deus porque o juízo de Deus é juízo de um só dia; o
juízo dos homens é juízo de toda a vida. Todos os dias, para os que vivem entre os homens, são dia do juízo.
O juízo de Deus há de ser em um só lugar, o juízo dos homens é em todos os lugares. Julgam-vos na casa e
julgam-vos na rua; julgam-vos na praça e julgam-vos na igreja; julgam-vos na corte e julgam-vos no monte;
julgam-vos no mundo e julgam-vos na religião; julgam-vos em todos os lugares onde estais e nos lugares
onde não estais também vos julgam […].
Ainda passa adiante a razão porque Deus julga no fim, e os homens, não. É porque, no juízo de Deus, não
basta a certeza do futuro para o castigo, e basta a emenda do passado para o perdão. No juízo dos homens,
nem para o futuro vale a incerteza, nem para o passado, a emenda.
PE. VIEIRA. Antônio. Sermão da Segunda Dominga do Advento. Disponível em: <https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos> Acesso em: out. 2023. Excertos. Com ajustes
Nesse sermão, o Padre Antônio Vieira, ao tratar do julgamento de Deus e dos homens, recorre a uma estratégia argumentativa que
A) utiliza uma figura jurídica para reforçar seu posicionamento sobre a matéria colocada em pauta.
B) apresenta relatos do cotidiano com o objetivo de fundamentar o ponto de vista defendido em seu discurso.
C) busca validar sua opinião sobre o tema discutido através do raciocínio que segue o esquema de causa e efeito.
D) usa uma série de fatos verídicos alusivos ao decurso do tempo para provar o que afirma sobre o conteúdo em foco.
E) expõe ideias distintas, realçando as diferenças entre elas a fim de atestar suas declarações quanto ao assunto tratado.
RESOLUÇÃO:
O Padre Antônio Vieira constrói todo o seu sermão sobre uma antítese central: o juízo de Deus versus o juízo dos homens. Para provar seu ponto de que o julgamento humano é “mais temeroso”, ele sistematicamente compara os dois, destacando suas diferenças fundamentais em vários aspectos:
A base do julgamento: Deus julga com o entendimento (razão), enquanto os homens julgam com a vontade (paixão, parcialidade).
A duração e o local: O juízo de Deus ocorre em um só dia e em um só lugar, enquanto o juízo dos homens é constante (“toda a vida”) e onipresente (“em todos os lugares”).
O momento e a finalidade: Deus julga no fim, permitindo o perdão através da emenda, enquanto os homens julgam de forma implacável, sem considerar a incerteza do futuro ou o arrependimento do passado.
Portanto, a estratégia principal do autor é expor essas duas ideias distintas (os dois tipos de juízo) e explorar exaustivamente as diferenças entre elas para validar sua tese inicial.
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