Questão comentada sobre arte contemporânea, da UEL

(UEL/2018) Leia os textos e observe as figuras a seguir.
Para realizar Anotações a partir de Caspar David Friedrich, Renata De Bonis, ao invés de focar-se na imensidão atemporal das paisagens, capturou a sonoridade
dos ambientes, a parte que existia apenas como imaginação projetada sobre a visualidade enquadrada. As faixas de som gravadas nas locações de Friedrich, então, tornaram-se substrato para esta sinestésica instalação sonora.
(Adaptado de: MIYADA,P.; ARDUI, O. Texto curatorial – Arte Atual Festival
– Quadro, Desquadro, Requadro. Instituto Tomie Ohtake: São Paulo,
2016. Disponível em: <http://www.institutotomieohtake.org.br/curadoria/
post/arte-atual-quadro-desquadro-requadro>. Acesso em: 27 mar. 2017.)

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É magnífico, na infinita solidão de uma beira mar, sob um céu velado, levar o olhar até uma imensa extensão de água deserta. É necessário, para isso, uma pretensão dirigida pelo coração e uma privação, se posso me exprimir assim, imposta pela natureza. […] Mas diante do quadro isso é impossível, e o que eu supunha encontrar no próprio quadro encontrei-o de antemão entre o quadro
e mim mesmo – ao mesmo tempo uma pretensão que meu coração dirigia ao quadro e uma privação que o quadro mesmo me impunha. E é assim que me tornei, eu mesmo, o monge, o quadro tornou-se a duna […]. Não há nada de mais triste e mais penoso do que uma tal situação no mundo: ser a única flâmula de vida no imenso império da morte, o centro solitário de um círculo solitário.
(Adaptado de: KLEIST, H. V. Impressões diante de uma paisagem marinha de Friedrich. Petitis écrits. Paris: Le Promeneur, 1999. p. 199-200. (1a. edição 1810).

Com base nos textos, nas figuras e nos conhecimentos sobre arte contemporânea, considere as afirmativas a seguir.
I. Ao construir a instalação por meio dos sons e da reprodução da imagem da pintura de Caspar David Friedrich, Renata De Bonis reitera sentidos, dialoga com a obra do artista romântico e atualiza o conceito de paisagem.
II. A grandiloquência do texto de Heinrich von Kleist se transfigura na ação da artista; embora o procedimento seja o de apropriação e de citação, isso está para além do plano da imagem: De Bonis empreendeu um conjunto de ações no tempo e no espaço.
III. O que caracteriza o trabalho de De Bonis como instalação é o conjunto de procedimentos e de deslocamento que a artista adota, assim como as materialidades que coleta para constituir, como obra, o próprio ambiente.
IV. O tempo entre a pintura de Caspar David Friedrich e a instalação de Renata De Bonis, assim como as diferenças técnicas entre ambas, indicam o sentido da evolução da arte e, do mesmo modo, da compreensão do homem acerca da vida.
Assinale a alternativa correta.
A) Somente as afirmativas I e II são corretas.
B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

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RESOLUÇÃO: (Banca elaboradora de provas da UEL)
I. Correta. Trata-se de uma das práticas recorrentes na arte contemporânea, a relação de apreensão, e não de oposição com outros movimentos, artistas e a própria relação com a tradição. Nessa possibilidade de diálogo com outras obras, quase sempre ocorre a atualização dos conceitos implicados na obra de referência, como foi o caso de Renata De Bonis, nesse caso, com o conceito de paisagem.
II. Correta. A expressão do texto de Kleist sobre a pintura guarda o sentido do sublime, uma das questões recorrentes no romantismo. Para a realização
de seu projeto, a artista paulistana empreendeu ações que, ainda que invisíveis, estão presentes em sua instalação, sem as quais o trabalho não existiria tal como existe.
III. Correta. Instalação é um termo que entrou em voga no campo da arte na década de 70, designando assemblages ou ambientes construídos numa galeria
ou museu para uma exposição particular (CHILVERS, Ian. Dicionário Oxford de arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 271.)
IV. Incorreta. Embora o conceito de instalação seja mais recente do que o de pintura, isso não implica num sentido evolutivo. Na contemporaneidade, a
pintura convive com todas as demais possibilidades de produção. O tempo e as novas tecnologias implicaram em possibilidades mais amplas de produção,
circulação e recepção da arte e este processo não é excludente.
Resp.: D

VEJA TAMBÉM:
Questão comentada sobre artes, da Unesp 2016-2

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